Aqui. Nessa gaveta. Minha gaveta. Em um armário. Possivelmente, atrás de uma porta. Minha casa.


sábado, 11 de dezembro de 2010

Sempre

escorre em gotas

goles d'água

em garrafas vazias


goles de saliva

quente alheia


escorre em tempo em

detalhes em pedaços


escorre e vão

embora para não mais voltar

em vão

e também para ficar para


sempre


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Silêncio em poesia

Esse poema se faz do silêncio
Da leitura concentrada calada dos
anseios por respostas

Esse poema se não fosse poema
Explicaria tudo em um sorriso dissimulado
Em uma foto antiga

Esse poema
Se faz
De silêncio então

Deixe

Que chore

Que a xícara quebre

Que a chuva se irrite com a janela

Que alguém apareça e contigo queira trocar

De lugar

Aqui.

Nessa gaveta.

Minha gaveta.

Em um armário.

Possivelmente, atrás de uma porta.


Minha casa.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

São lagrimas as águas de um lago

É lago as lagrimas de um homem


É solidão as lagrimas que formam o lago

E dissimulado é o lago feito de solidão


Aqui


Dois pés atrapalhando o caminho das leves ondas

Pés calçados e encharcados

- de vergonha


Olhando a outra margem

Dois olhos no caminho da paisagem

Olhos soterrados no lodo

- da melancolia


Então os olhos fitam os pés


E os pés marcham em regresso


E o corpo quase desmaia

Em sua fraqueza

- conhecer o fim da história

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Chora sem parar

E pede água

Como se ela fosse secar


Sustenta o copo

Com as delicadas mãos

Que tremulam de desespero


E tempestuoso

O copo é levado até os lábios

E a água faz seu caminho

Cíclico

O frágil papel

Todos praticam

Das mesmas amarguras


Todos querem a mesma solução

Inatingível


Todos rasgam com anotações as páginas brancas de um caderno

Cheio de sentimentos

Transbordando sofrimentos


E o poeta desenha

Delicadamente


Desenha uma paisagem

Em que todos se encontram


Na qual todos se entendem

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A epopéia do ar

Vacilo os olhos

pelo quarto:

Armário; porta; parede; estante; janela; mesa; quadro.


Nesse quarto.

Imerso no ar,

insolúvel,

essa cena

congelada

- derretendo -

é corrompida:

tic tac tic tac.

O relógio não sabe brincar.


- Burro! Acreditas que enganas alguém? Gritei.


Ele zomba de mim.

Repetitivo, apático, inércia.

Inexorável.


Pelo quarto,

rebatendo pelos quatro cantos,

ele continua a cantar,

resmungar.

Já não suporto

acreditar; querer acreditar; fingir que acredito.

Fingir que me importo.


Um sopro, sorrateiro, repentino,

invade esse aquário,

aquário de ar.

Desequilíbrio,

desastre, confuso.

Estranho movimento

modifica tudo, purifica.

Os livros, levemente,

são tocados, retocados,

esperançosos.

Um, teimoso e corajoso,

tremula de três ou quatro páginas.

Em vão, logo passa, e se aquetam, todos,

novamente.


A janela é gradualmente atacada,

seduzida.

Honrada, se orgulha,

e luta contra o invasor,

e ganha.

O fogo, lá fora, queima!

E eu, aqui dentro, protegido.

Suporto esse relógio resmungão

e negligencio esses livros tristes.

Mergulhado nesse mar,

ar.

Esperando, alguma coisa,

coisa alguma:

Uma ponta,

ponto;

Um presságio,

ágil;

Um destino,

incerto.


Mas o tempo,

insolúvel,

se mistura no ar,

mar,

te engole,

te digere,

e te cospe

gasto,

imprestável.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sentilografando

Sentido

De ter

Te visto

Amanhã

Sem ter

Te tido

Hoje

Então

Fico assim

Sentido


domingo, 19 de setembro de 2010

Os Olhos

Os Olhos

Os Olhos

Desses que invejam

E que mentem

E que fingem

E escondem


Os Olhos

Cintilantes

De quem se mostra

E pretende

Mas não diz

Os Olhos já disseram


Não me olhe com os seus

Não desse jeito

que não entendo


Pois os outros que nos olham

Esses para mim

fingem

Fingem que olham

Com olhos de mentira

E frases de gravador

Que repetem o mesmo


Os Olhos

Que não entendo

Que as vezes

Nem conheço

E tenho medo de conhecer

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Os móveis ficam

As coisas caem.

Mas não passam do chão.

Tua voz sutil previne:

- Não seja desastrado,

Cuidado ao caminhar na sala

Para não derrubar,

Os retratos,

As lembranças,

Aquela bela imagem.

sábado, 14 de agosto de 2010

Samba do frio

Era um casal

Já de idade


Dançavam abraçados,

Enrolados, enlaçados,

Desajeitados, num samba

Difícil de dançar


...Iam pra lá

Iam pra cá...


Se divertiam

Sem muito aproveitar

Ao som da banda

Que aquecia o lugar,

Que insistia com o samba

P'r'ele se acostumar,

Com o humilde azo

De fazer dançar


Mas, não adiantava insistir,

Pois

O samba,

Ele não nasceu p'r'o frio


E aquele casal,

Agasalhados insistentes,

Enrolados, enlaçados,

Dançavam,

Desajeitados,

Nesse samba

Difícil de dançar

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Espelho espelho

Que bom saber

que nunca acaba


Que quando te vejo

é um efeito

espelho espelho

onde a imagem

reflete a imagem

Da imagem megami aD

Da imagem megami aD

Da imagem megami aD

Da imagem megami aD

Da imagem megami aD

Da imagem megami aD

Da imagem megami aD

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Quase aqui sem estar lá

Se olharam de soslaio.

Quase se engoliram em vontade.

Então, ele disse:


– Não tem problema, não.

Não estou fazendo nada, mesmo.

Eu te espero.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Ordinário

Raiva:

tu bates as portas

pela casa.


Soco, impulso.

Pobre do armário,

indefeso.

Não abre mais.


Tu

corres para o pátio.

Desgosto e ódio.


Lá, te sujas de desejo.

Aqui, te espero,


sereno.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A cadeira

A cadeira está vazia

Alguém senta na cadeira

Pra ela não ficar sozinha

quinta-feira, 25 de março de 2010

Volta ao Mundo

Parede

Parede

Parede

Porta

Parede

Parede

Parede

Porta

...

domingo, 14 de março de 2010

O retrato do simples homem

Fachada costumeira

cercado de madeira

tábuas, lado a lado,

não impedem a visão,

fingem proteger

o que não precisa proteção.


Mulher na cozinha

vê pela vidraça

o homem na calçada

de chimarrão na mão,

ocupado com idéias

mentindo solidão.